Muitos de nós intuitivamente sabem que as experiências são mais importantes para o nosso bem-estar do que os bens materiais. Há inúmeros estudos neste domínio de bens ou experiências, como também a nossa própria intuição a confirmar este facto.
Sabemos que o prazer que retiramos de uma experiência enriquecedora vale muito mais do que qualquer peça de roupa ou móvel que possamos ter em nossa casa. Sabemos também que trabalhar demasiado, que é geralmente associado a quem tem muitos bens, é o mais comum dos arrependimentos de quando morremos, o que é confirmado por Bronnie Ware, especialista em cuidados paliativos e autor do livro Os 5 principais arrependimentos que as pessoas tem antes de morrer. O tempo e a forma como o utilizamos é, sem dúvida, mais importante do que a generalidade dos bens materiais que possuímos, daí que as experiências, por representarem formas enriquecedoras de passarmos o tempo, muitas vezes com outras pessoas, nos façam necessariamente sentir mais preenchidas e completas com a nossa vida.
Bens – gastamos pouco conscientemente
Há, no entanto, pessoas que, mesmo reconhecendo este facto racionalmente, não o têm em conta nas suas escolhas monetárias do dia-a-dia, continuando a consumir muitos bens. Existem ainda outros que o conseguem ter em conta quando nos referimos a poupanças que envolvam bens de baixo valor, mas não conseguem fazer o mesmo tipo de análise para bens de elevado valor, nomeadamente na compra de uma casa.
É muito interessante analisar com atenção a questão da casa, uma vez que a maior parte de nós passa a vida a pagar uma casa, gastando pelo menos entre 30% a 40% do rendimento familiar em gastos relacionados com a habitação (para veres mais sobre este assunto clica aqui e aqui). Isto significa que mais de ⅓ das horas que trabalhamos serviram apenas para pagar este bem e a sua manutenção. Se a nossa vida laboral dura 45 anos, pelo menos 15 desses anos estives-te a trabalhar para poder pagar um sítio para viver. Já tinhas pensado neste assunto desta forma?
Experiências são a nova fonte de receitas
Numa sociedade focada no crescimento e em que para a grande maioria das pessoas nos países desenvolvidos as necessidades de bens estão praticamente completamente satisfeitas, as experiências são a expansão natural de oferta das empresas. Assim, o setor dos serviços, nomeadamente o turismo, restauração, estética, experiências desportivas, etc. tem vindo a crescer significativamente nos últimos anos.
O orçamento das famílias gasto nesta dimensão tem também aumentado, juntamente com o aumento da oferta e a consciência de que o dinheiro é melhor gasto em experiências do que bens. A conveniência que alguns serviços oferecem, nomeadamente a entrega de refeições já feitas a casa, por um preço que não parece muito elevado, contribuíram também para este aumento dos gastos. No entanto, é importante pensarmos no valor que efetivamente nos trazem estas experiências, já que estão a contribuir de forma significativa para a redução das nossas poupanças.
Jantar fora e viajar
Bens ou experiências? Jantar fora e viajar são dois exemplos que vale a pena refletir. No tempo em que vivi fora de Portugal, conheci muita gente que considera que estes dois itens quase definem o seu estilo e nível de vida, em particular porque foram as grandes mudanças que surgiram com o aumento do seu rendimento. Muitas vezes os que dizem que não podem mudar de trabalho ou, no caso de emigrantes, voltar para o seu país de origem, onde geralmente os salários são menores, porque tal significaria diminuir o seu nível de vida, referem-se principalmente a estas duas dimensões.
Com o aumento do seu rendimento, os gastos destas pessoas nestas duas dimensões aumentaram significativamente. Em Inglês existe uma expressão muito adequada a estes casos que é Inflaction lifestyle, isto é, com o aumento do rendimento, as pessoas aumentam o que consideram ser o seu nível de vida, em particular, gastam uma parte significativa do seu rendimento a comer fora, não conseguindo, depois, imaginar voltar ao tipo de vida que tinham antes desse aumento de rendimento. Isto é, comer fora quase todos os dias tornou-se o novo normal.
Muitas vezes nem temos consciência do valor total que gastamos porque é o resultado de uma soma de pequenos gastos diários. No entanto, valorizamos tanto essa dimensão da nossa vida para gastarmos 30% ou mais do nosso rendimento nela? Este é mais um dos casos em que ninguém acredita no valor que realmente gasta até fazer as contas, em que todos achamos que gastamos menos do que o que efetivamente gastamos. Por isso é importante anotares os teus gastos e analisá-los. Se queres poupar a sério e com efeitos duradouros vê mais informações sobre o e-book que podes adquirir aqui.
O mesmo tipo de raciocínio se pode aplicar às viagens, com a diferença de ser algo que geralmente fazemos muito mais esporadicamente. Sim, é uma experiência que geralmente nos traz muito prazer, mas geralmente também é muito dispendiosa. Podemos pensar em formas de ter o mesmo prazer gastando menos dinheiro? Não só tornando a viagem efetivamente especial e realizando-a apenas se houver um genuíno interesse e antecipação pela mesma, mas também pensando em como retirar o mesmo prazer com menos dinheiro, combinando por exemplo noites em hotéis melhores com noites em hotéis menos bons e tentando não seguir as modas dos destinos de férias, que geralmente os torna mais caros e menos autênticos. Com as redes sociais e a pressão para atingir objetivos, muitas vezes parece-me que viajar se tornou uma forma de dizer que se foi a locais e se tirou determinadas fotos, sendo que a maior parte das pessoas seria efetivamente mais feliz se tivesse umas férias mais relaxadas noutro local.
Daniel Kahneman, na sua TEDTalk, pergunta ao público se, nas suas próximas férias, se soubessem que todas as fotos seriam destruídas e que não se iriam lembrar das férias posteriormente, ainda escolheriam o mesmo destino. A maior parte das pessoas não escolheria, provavelmente focar-se-ia num destino que lhe daria mais prazer momentâneo, já que não teria o prazer de recordar esses momentos. Faz-nos pensar que os nossos destinos de férias não são escolhidos necessariamente para nos dar prazer, mas para as memórias e fotos. Não valeria mais a pena gastar dinheiro com o nosso real bem-estar no momento do que com o que a recordação nos trará? Muitas vezes é até mais barato e mais relaxante.
Para refletir…
É, por isso, importante, não apenas termos consciência de que os bens materiais não nos trazem necessariamente uma vida mais rica, mas também recordarmo-nos desse facto no momento em que adquirimos um bem. Ao mesmo tempo, é preciso refletirmos sobre o quão muitas experiências são sobrevalorizadas, tornando-se muitas vezes banais e mais uma forma de consumismo. Bens ou experiências? Focar-nos nas experiências que nos trazem realmente valor acrescentado e torná-las especiais, em particular ao reduzir o número de vezes que as experienciamos, pode gerar uma poupança significativa e ajudar-nos a encontrar o ponto de equilíbrio perfeito entre a nossa felicidade e a maximização da poupança.
2 respostas
Oh não, desculpa, voltei a encontrar esse erro: “pelo menos 15 desses anos estives-te a trabalhar”. É ‘estiveste”.
Estou a ler o blog todo. Estou a adorar!
Obrigada 🙂