A nossa liberdade é sem dúvida um dos grandes pilares do mundo ocidental. Sendo que as liberdades essenciais estão na sua generalidade garantidas, como a liberdade de expressão, religiosa, liberdade de associação, entre outras, existem inúmeros outros constrangimentos à liberdade, não tão evidentes, mas que condicionam a nossa vida.
Refiro-me aqui a restrições que se prendem com a visão da sociedade onde nos inserimos e como somos naturalmente todos influenciados por ela, sem ter a consciência disso, nomeadamente no caso específico da gestão do dinheiro. A forma como gastamos o nosso dinheiro não reflete apenas as nossas decisões individuais, embora queiramos acreditar que sim, mas, em particular para bens mais dispendiosos, reflete em grande medida os valores da sociedade onde nos inserimos.
A nossa liberdade também traz consigo aspetos negativos, já que nos obriga efetivamente a pensar sobre o que realmente queremos e o que valorizamos. A liberdade retira-nos as limitações e tal pode ser entendido como libertador, mas, ao mesmo tempo, o facto de termos inúmeras possibilidades pode também ser assustador (ver mais sobre este tema aqui).
Hoje em dia os políticos recorrem aos níveis elevados de dívida para justificar que a sua liberdade de agir está massivamente restringida. As pessoas, nas suas próprias vidas, acabam por agir de forma semelhante, justificando as limitações nas suas ações com as obrigações monetárias que tem de pagar todos os meses. Limitados por estas, não têm grande opção se não manter o estilo de vida e de trabalho que os permita pagá-las todos os meses.
A ideia de que o sucesso é atingido quando compramos uma casa, um carro e até mesmo eletrodomésticos ou outros utensílios para a casa é generalizada e somos naturalmente influenciados por ela. A maior parte de nós pensa que não existe outra opção, a não ser trabalhar para ter um estilo de vida confortável, que achamos ser conseguido através do consumo de determinados bens e através do que consideramos ser reconhecimento no local de trabalho. O facto de nos comprometermos com estas dívidas ou pagamentos regulares geralmente pouco tempo depois de iniciarmos a nossa vida laboral faz com que estas sejam parte de nós desde o início, e portanto não as questionamos, embora efetivamente elas nos estejam a retirar liberdade, nomeadamente a nossa liberdade de poder gastar o dinheiro noutro tipo de bens.
Sabias que há inúmeros estudos que provam não haver correlação entre a satisfação com a casa e a satisfação com a vida? Ora, tendo em conta que passamos a nossa vida quase toda a pagar uma casa, esperaríamos que tal contribuísse para o aumento da nossa satisfação global, correto? Pois, em determinados contextos, ao contrário do que seria expectável, o nível de satisfação com a vida em geral até diminui com o aumento do nível de satisfação com a casa. No entanto, mesmo assim, fazemos inúmeros sacrifícios na vida para poder pagar determinada casa, mesmo sendo geralmente um mau investimento.
Todos nós conhecemos pessoas que dão prioridade ao trabalho em prole da família e da sua própria saúde, achando que não têm outra escolha. Muitas outras que usam os filhos como argumento para não terem dinheiro, gastando muitas vezes dinheiro desnecessário em coisas muito pouco relevantes para a felicidade dos filhos e crescimento (vê como poupares com filhos aqui). As pessoas querem acreditar que é uma obrigação delas ter este estilo de vida e providenciar o mesmo aos filhos, mas na realidade gastar muito com os filhos pode ser uma escolha.
Não podemos deixar que o que é efetivamente importante, como a saúde e as relações, se deteriore em prole do trabalho, achando que é o natural. Muitos acham quase que estão a ser altruístas em fazê-lo, pois põem-se em segundo lugar, fazendo esforços pela sua família e empresa. Mas tal raramente é verdade, pois a família geralmente prefere tempo em vez de dinheiro e as empresas querem pessoas bem descansadas, criativas e positivas, algo que se torna difícil quando se trabalha muitas horas e se está cansado ou desmotivado.
Naturalmente que a maior parte de nós não pode decidir não trabalhar, nem eu acredito que sejamos mais felizes sem trabalho nem propósito, mas temos sempre algumas escolhas que podemos fazer relativamente ao tipo de trabalho, ao tempo que perdemos em transportes e aos limites que impomos no nosso próprio local de trabalho. Temos também alguma liberdade relativamente ao tipo de trabalho que nos focamos, dentro do nosso local de trabalho.
É uma obrigação nossa perante a sociedade usar o nosso tempo produtivo da forma mais eficiente possível, por isso manter-nos saudáveis e felizes, aumentando o bem-estar e produtividade de quem está à nossa volta, não pode ser visto como egoísta. Egoísta é, sim, estarmos constantemente ocupados no trabalho, muitas vezes em tarefas pouco relevantes e que pouco contribuem para o sucesso da própria empresa nem para o seu impacto na sociedade.
Devemos ser responsáveis pelas nossas escolhas monetárias e pelas suas consequências. O nosso padrão de consumo deve ser a nossa escolha e o primeiro passo para tomarmos decisões conscientes neste campo é assumirmos que somos efetivamente influenciados pelos outros e pela ideia de sucesso valorizada pela sociedade.
Não podemos deixar-nos ser infelizes porque estamos limitados pelas escolhas que nós próprios fizemos, mas ponderar efetivamente antes de tomar decisões que nos irão largamente restringir a nossa liberdade é fundamental. Assim, antes de comprares uma casa maior porque tens mais filhos, pensa em formas criativas de como poderás adaptar a tua casa. Antes de comprar o novo telemóvel ou ipad, pensa se efetivamente precisas dele. Lembra-te que te trará menos stress e mais liberdade saber que estás a acumular riqueza em vez de gastar dinheiro.
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